(Poema de: Stela C. Dubois)
I
Cheia de atrocidade e de enganos,
Por uma intermitência de seis anos,
A guerra se alastrou.
Uma hecatombe universal, enorme,
Nos efeitos, nos lances, multiforme,
Qual nunca se pensou!
II
Um pobre moço, já tiranizado
Pelas malhas tremendas do pecado,
Entrou também na liça.
E a sua mãe velhinha, boa crente,
Dera no seu a Deus este presente,
Palavras de justiça:
III
A Bíblia, ei-la aqui, meu filho, é tua!
Broquel, escudo, amor, espada nua,
E luz para a tua jornada.
Quando a tomares sobre a tua mão,
Nela verás, orando, um coração
De mãe amargurada.
Iv
N’alma do moço havia uma saudade,
Que de remorso vil se persuade
Para a dor acalmar...
Em vão palavras, lágrimas, gemidos,
Pois dera a pobre mãe sonhos perdidos.
E noites a penar...
V
Que palavras podiam, nesta hora,
dizer como um consolo a mãe que chora
tamanha ingratidão?
Vou partir! Fui malvado! Ó mãe, perdoa
O teu filho infeliz, Ó mãe tão boa,
Feri-te o coração!...
VI
De mamãe as saudades vou levando,
Mas vejo, só tristezas vou deixando
Do mal que lhe causei;
Tivera eu sido um filho bom, e agora,
Pela separação chorando, embora,
Feliz seria, eu sei!
A FEB. no seu traje verde oliva
Acena um adeus, e parti, moça e altiva,
Ao som das clarinadas.
De longe, ainda, os brados de alegria
Dessa turba que enfrenta com afania,
As negras barricadas
O filho partiu. É triste a guerra,
No extermínio que envolve toda a terra,
Em grito de amargura.
Mas a guerra castiga, açoita ou mata;
E se não muda o coração, desata
As fontes da brandura.
IX
Foi no Monte Castelo a sua glória!
Contava o capelão a doce história,
De Cristo o Salvador!
O soldado, contente aceita a graça.
E mais contente ainda, a luz o enlaça
E torna um vencedor.
X
O herói do Salvador vence o inimigo,
Rompe os grilhões de tão veraz castigo,
E canta a liberdade.
Oh. Direi a mamãe: _Estou remido!
Já não sou mais o prodigo perdido,
Ganhei a eternidade!
XI
Fora condecorado. Que alegria!
Porem, de mais quilate e garantia,
É de Deus o perdão.
Correr, narrar a sua mãe amada,
Quanto a guerra lhe deu nessa jornada,
De dupla salvação.
XII
Lá na Itália festejava-se a vitória;
Bimbalham os sinos, há canções de glória,
Pelo infinito espaço.
Os pracinhas febris levam bandeiras,
Cantando as suas marchas brasileiras,
Num vivido compasso.
O filho volta à pátria sobranceiro,
E de pronto, procura o lar primeiro,
Para a mãe abraçar.
Tremulo, abre a tranca do portão...
Em desempasso, arfando, o coração,
mal pode falar.
XIV
A sorrir e a gemer, brada o soldado;
Repetindo esse nome idolatrado:
_Mamãe! Mamãe querida!
_quero fazer-te agora uma surpresa
E apagar para sempre essa tristeza
De tua alma dorida.
XV
Mamãe! Mamãe! _A porta está fechada.
Nem vivente sequer, nessa amurada
que circunda, o jardim...
voz amiga, porém, num tom magoado,
acolhe a impaciência do soldado
que a mãe procura assim...
XVI
Tua mãe não está, ó moço forte;
Na ausência atroz, roubou-a a dura morte
As justas desse amor.
Morreu, ao repetir o nome, filho,
Como se fora lépido estribilho
De um hino encantador...
XVII
No silencio do lar, então deserto,
Curvou-se o moço, a soluçar,
bem perto da touceiras em flor!;;;
Mamãe...partiu...não pude consolá-la...
Com o premio da minha alma que trescala,
A benção do Senhor.
XVIII
Antes que a morte venha impenitente,
Roubar de vossa mãe a voz plangente,
Mais forte que a de um rei;
Ingratos filhos, daí-lhe o vosso afeto,
N’alma escrevendo este feliz decreto:
“A MEUS PAIS HONRAREI”