segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

"PÉROLAS ESPARSAS" HISTÓRIA DRAMÁTICA

Uma História Verdadeira da Vida de uma Mulher
Levantando-se de improviso na assembléia, ela assim falou: "Casada com um bêbado? Sim; eu fui esposa de um bêbado. Prestai-me atenção! Falo às moças." Todos nós nos voltamos e escutamo-la. Era uma mulher pálida, de olhos escuros e tristes, cabelos brancos dispostos lisamente sobre uma

fronte que denotava inteligência. "Desposando um bêbado, atingi o apogeu da miséria," continuou ela. "Eu era jovem e oh! tão infeliz! Casei-me com o homem que eu amava e protestava amar-me também. Era um bêbado, e eu o sabia - sabia-o, mas não podia avaliar o isso fosse. Nem há uma só jovem aqui presente que o saiba, a menos que ela tenha um bêbado na família; em tal caso, talvez conheça quão profundo é o desgosto que invade a alma de uma mulher que ama e está unida a um ébrio - quer este seja pai, marido, irmão ou filho. Moças acreditai-me quando eu vos disser que desposar um bêbado é o cúmulo de toda a miséria. Sofri a experiência e conheço-a. Adquiri o horrível conhecimento à custo da felicidade, da sanidade, e quase da própria vida. Admirai vós de que meus cabelos estejam brancos? Tornaram-se assim num noite, branqueados pelo desgosto, como Maria Antonieta disse dos seus. Não tenho quarenta anos de idade, não obstante, a neve dos setenta paira sobre a minha cabeça e em meu coração. Ah! eu não posso começar a contar os invernos que os oprimem," exclamou ela com inexprimível veemência na voz. "Meu marido era profissional. Sua profissão fazia-o sair freqüentemente de casa à noite, e quando voltava, vinha bêbado. Gradualmente foi dando largas a tentação durante o dia, até que raramente deixava de estar embriagado. Eu tinha duas formosas filhas e um filho." Aqui, sua voz alterou-se, e nós nos sentamos, escutando a história em profundo silêncio. "Meu marido estivera bebendo demasiadamente, e passados eram dois dias que não o via; ele se ausentara do lar. Uma noite eu estava assentada à cabeceira de meu filho, que adoecera; as duas meninas dormiam no quarto contíguo, quando ouvi meu marido penetrar, ao chegar a casa, noutro quarto que havia além. Este aposento comunicava-se co0m aquele em que minhas estavam. Não sei por que, mas um sentimento de terror apoderou-se de mim, e senti que minhas filhas estavam em perigo. Levantei-me e dirigi-me para ali. A porta estava fechada. Bati freneticamente, mas não recebi resposta. Eu parecia estar dotada de uma força sobre-humana, e atirando-me com toda a força contra a porta, ela cedeu e escancarou-se. Oh, que quadro! horrível quadro!" ela lastimava-se com uma voz que me aflige ainda; e cobriu a face com as mãos, e, quando as tirou, estava mais pálida e mais triste que nunca. "Delirium tremes! Jamais o vistes, moças; e permita Deus que nunca o vejais. Meu marido estava atrás da cama, seus olhos tinham a fixidez brilhante da loucura. 'Leve-as!' bradou ele, 'estas horríveis coisas; elas estão todas de rastos defronte de mim! Leve-as, já disse!' e brandiu a faca no ar. Indiferente ao perigo, arremessei-me para o leito, e, repentinamente meu coração pareceu cessar de bater. Aí jaziam minhas filhas, cobertas de sangue, assassinadas por seu próprio pai! Por um momento, não pude proferir uma palavra. Fiquei inteiramente emudecida por minha terrível dor. Eu mal prestava atenção ao doido que estava ao meu lado - o homem que me trouxera todo o infortúnio. Dei então um retumbante grito e meus gemidos ecoaram no espaço. Os criados ouviram-me e dirigiram-se apressadamente para o quarto; ao vê-los, meu marido repentinamente passou a faca na própria garganta. Nada mais vi. Fui conduzida, desmaiada, do quarto que continha os cadáveres de minhas filhas, atrozmente assassinadas, e o de meu marido. No dia imediato, meus cabelos estavam brancos e meu espírito de tal modo perturbado que eu não conhecia ninguém."

Ela fez pausa. Nossos olhos estavam fixos em sua face pálida. Algumas mulheres choravam alto, enquanto havia apenas uma pessoa cujos olhos estavam enxutos, nesta sessão de temperança. Observamos que ela não acabara de falar; estava somente esperando dominar a emoção para concluir a história. "Por dois anos," continuou ela, "fui uma ruína mental. Depois me restabeleci do choque e dediquei-me a cuidar de meu filho. Mas o vício do pai manifestou-se no filho e há seis meses ele, de dezoito anos de idade, foi levado à sepultura, vítima de bebida; e quando eu, sua extremosa mãe, fiquei só e via terra amontoada sobre ele, exclamei: 'Graças a Deus! Prefiro vê-lo aqui a tê-lo vivo, bêbado,' e voltei para meu desolado lar - uma mulher sem filhos, mulher sobre a qual a mão da desgraça se abatera pesadamente. "Moças, é a vós que desejo livrar do destino que me surpreendeu. Não arruineis vossa vida como eu arruinei a minha; não cometais a loucura de casar-vos com um bêbado. Tendes-lhe amor? Tanto pior para vós; porquanto desposando-o, maior será vossa miséria por causa do vosso amor. Dizeis que após o casamento o corrigireis? Ah! uma mulher encarece tristemente o seu prestígio quando empreende fazer isso. Não é competidor para ele, garanto-vos. O que é a vossa débil influência em comparação à sua força gigantesca? Ele vos esmagará da mesma forma. Foi para salvar-nos, moças, dos desgostos que arruinaram minha felicidade, que vos relatei minha história. Sou estranha nesta grande cidade. Estou apenas de passagem por ela; e tenho uma mensagem para cada moça: Nunca aceiteis como marido um bêbado." Pude vê-la, então, enquanto se achava ali entre a calma assembléia, seus escuros olhos brilhando e seu corpo tremendo de emoção enquanto fazia o apaixonado apelo. Depois se retirou, e nunca mais tornamos a vê-la. Suas palavras não foram, em todo caso, infrutíferas, e por causa delas há, no mínimo, uma moça solteira.

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